29 de outubro de 2011

Igualdade e Integração (in: Maia Hoje)

Existem momentos na nossa vida em que a realidade nos obriga a reflectir sobre coisas que nunca nos haviam passado pela cabeça, em que aqueles casos que julgávamos só
acontecer aos outros acontecem no nosso seio familiar, e os problemas que nos pareciam
distantes passam a estar muito perto.

Aconteceu comigo quando há cerca de 4 anos quando fui confrontado com o facto de uma das pessoas mais importantes da minha vida ser portadora de surdez profunda.

No momento em que nos é dada a notícia somos assolados por misto de sensações impossíveis de explicar, ficamos a pensar no que será possível fazer, em como será o futuro. Com este caso a acontecer na minha vida, tornei-me uma pessoa muito mais atenta e muito mais preocupada com os deficientes.

Há alguns dias enquanto conversava com um amigo sobre estas questões, ele dizia-me
que já muito está feito em prol dos cidadãos com deficiência, por exemplo (diz-me ele), “hoje
um deficiente já pode aceder a quase todos os serviços públicos porque os acessos já o permitem”. Eu, apesar de não concordar com isto, perguntei-lhe: - “E se por ventura chegar à repartição de finanças ou ao Centro de Saúde da Maia um surdo?”. Ele, depois de pensar alguns segundos, respondeu-me que quando lhe falei em deficientes, apenas se lembrou dos deficientes motores, e nunca lhe passou pela cabeça o caso, por exemplo, dos surdos.

A verdade é que em qualquer serviço público ou mesmo privado em Portugal, escasseiam pessoas preparadas para comunicar devidamente com os surdos. É preciso começar a incutir na população a necessidade de para além do Inglês, do Espanhol e do Francês, aprenderem uma nova língua, a Língua Gestual Portuguesa.

Sobre esta matéria ouvia há dias a Dra. Amélia Amil, Vice-Presidente da Associação
de Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos em entrevista à Rádio Antena 1 falar das “Portagens da Linguagem”, ou seja, da necessidade de pagamento de uma intérprete para que um surdo possa comunicar devidamente com alguém externo ao seu mundo, desta forma estamos a violar um direito básico, o da comunicação, e isto não pode nem deve acontecer.
Felizmente no final do passado mês de Setembro foi dado um grande passo no nosso distrito rumo à inclusão da pessoa surda.

Nasceu numa antiga escola primária de Matosinhos a “Casa do Surdo”, uma união de esforços entre a Câmara Municipal de Matosinhos a Associação de Apoio a Surdos de Matosinhos, a Associação de Tradutores e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa e a Associação Portuguesa de Apoio a Implantes Cocleares. Além de acolher os serviços administrativos das três associações, este espaço conta também com uma sala polivalente para a dinamização de diversas actividades, uma biblioteca, uma sala de formação, um bar de apoio aos utentes, um centro de dia para idosos e apoio e animação a crianças surdas.
Esta casa, para além de apoiar os portadores de deficiência auditiva e as suas famílias, vai também permitir que os ouvintes se interessem mais pela vida dos Surdos

e pelas suas dificuldades, uma vez que, entre as várias iniciativas e formações, estará também aberta e disponível para todos a Formação em Língua Gestual Portuguesa. Esta maior interacção advém do facto desta Casa integrar estas quatro associações sendo portanto um espaço mais aberto a TODOS!
Um grande passo para a igualdade, não é só o integrarmos os deficientes no nosso meio é essencialmente termos nós a capacidade de nos integrar no meio deles e
de os compreender.



Crónica Publicada na Edição Nº285 do Jornal "Maia Hoje"

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