Parece-me óbvio que, seja qual for o momento em que juntemos o cocktail explosivo
de álcool, drogas, euforia, liberdade e alguns milhares de jovens, as coisas
podem correr de forma inesperada.
Muito mais do que a simples questão de se afinal os jovens terão ou não
destruído o hotel, de tal forma que o gerente do mesmo quase pediu às
autoridades que declarassem estado de emergência (mas dois dias de pois reabriu
como se nada tivesse acontecido), ou se foi abuso da posição de superioridade
no negócio entre o gestor hoteleiro e os turistas, interessa-me saber afinal,
que geração é esta.
No desenrolar dos acontecimentos desta semana, percebi que, esta geração pode
ser o reflexo dos exemplos que vê. Prova clara e inequívoca disso é o momento em que uma mãe, que na teoria representava todos os pais, em busca de uns
minutos de fama, resolve dizer i que se a intenção fosse mandar os filhos para um
sítio calmo, os teria mandado para Fátima.
Ser educado não é sinónimo de ir à escola.
Recordo os meus avós (daqueles que a vida me deu a felicidade de conhecer, e
daqueles que, não o sendo, de facto, fizeram esse papel na perfeição). Não eram
pessoas de elevada formação contudo eram, sem sombra de dúvida, pessoas
educadas. Foram eles, e os meus pais, que me passaram valores como
o respeito pelo próximo, a lealdade, a retidão nas posições, entre outros, sem
nunca me terem mandado para Fátima.
A educação de hoje está, avulsas vezes, agregada ao título académico que se
ostenta.
Ir à escola não pode ser encarado como factor exclusivo de educação e formação.
Há (e tem que haver) muito mais para além disso.
Insistentemente é repetido que a educação começa (ou deveria), sempre, e para
além de tudo, em casa. Sou obrigado a concordar.
Contudo, questiono:
Como pode essa educação ser começada (e avivada) em casa, quando as crianças e
jovens passam tanto tempo na escola e, como se ainda não bastasse, trazem com
elas uma quantidade absurda de trabalhos de casa?
Como pode essa educação ser começada (e avivada em casa), quando os pais
trabalham tantas horas por semana (menos se forem funcionários públicos)?
Que exemplo devem os jovens seguir?
Num mundo virado do avesso, onde guerras começam por birra de dirigentes. Onde
dirigentes políticos de países com interesse crucial enxovalham e ameaçam sem
precedentes aqueles que, por alguma razão, são diferentes.
Num mundo onde um cartão vermelho num jogo de futebol dá direito a uma joelhada
a um árbitro. Onde uma qualquer rivalidade ataca à bomba um autocarro de
um clube. Onde uma claque de futebol deseja que um certo avião levasse uma outra equipa.
Num mundo onde, por divergências religiosas, se autoproclamam estados. Onde
inocentes são mortos por terroristas em ataques sem sentido.
Num país onde um primeiro-ministro fala com ar jocoso do momento em que um
ministro de um governo anterior se baixa para falar com um outro ministro, que
por infelicidade, é paraplégico. Onde governos são criados à revelia de
resultados eleitorais. Onde antigos governantes vão presos por corrupção.
Numa sociedade onde, em horário nobre televisivo, são fechadas pessoas em casas
para que observemos a vida delas. Numa sociedade em que essas mesmas pessoas,
quando saem dessas mesmas casas, são personalidades muito importantes, com
direito a serem pagas por estarem presentes em sítios.
Num país onde juventudes partidárias, demitindo-se do seu papel, ao invés de trabalharem no sentido de mudar o futuro, perdem o seu tempo a fazer piadas sobre circulação de trânsito.
Urge ver e rever com atenção os nossos conceitos de sociedade. A forma como nos
organizamos e olhamos para valores como o trabalho e o dinheiro. É
crucial que aqueles que têm exposição pública e mediática (políticos
incluídos), têm no centro da sua ação atitudes dignas e de valor, que
possam ser seguidas. Que liderem pelo exemplo, pelo bom exemplo.
Não pode uma sociedade viver maior crise, que a crise de valores.